
Trazida da Angola em porões de navios negreiros e passando pelas senzalas, a capoeira é diretamente ligada a expressões culturais e artísticas do povo negro, escravizado durante anos em diversas fazendas de cana-de-açúcar ao redor do Brasil. Os capoeiristas praticam esse estilo de dança e luta, reconhecida no nosso país especialmente na Bahia, onde se tem os primeiros registros das práticas.
Quando fugiam das senzalas rumo a quilombos, os escravos eram perseguidos por capitães-do-mato, que agiam de formas muito violentas contra eles. Para autodefesa, os negros criaram uma forma de luta que disfarçava os movimentos de chutes e golpes com uma associação a cânticos e danças tipicamente africanas.
Ainda que não haja um dia nacional para o capoeirista – o projeto está em tramitação no Congresso Nacional –, a data de 03 de agosto é referente à aprovação da lei estadual nº 4.649, criada em 1985 pelo então governador de São Paulo, André Franco Montoro. Apesar disso, alguns outros estados e municípios possuem leis semelhantes que designam, em datas distintas, dias de representação para a prática da capoeira.
Existem três tipos de capoeira, diferenciadas entre movimento e ritmo musical: a Angola, tradicional desde os tempos de escravidão e que é marcada pelo ritmo lento e golpes mais baixos próximos ao solo. O estilo regional da capoeira mescla a malícia da capoeira Angola com o ritmo mais rápido ao som do berimbau. Já o estilo contemporâneo, uma mistura dos outros dois estilos, é o mais praticado na atualidade.
Com a abolição da escravatura e a chegada da República (1989), o então presidente Marechal Deodoro da Fonseca iniciou uma campanha de perseguição à prática dos capoeiristas. Criminalizada pela lei “Sampaio Ferraz”, a capoeira era passível de punição com trabalho forçado na Ilha de Fernando de Noronha e só veio a ser legalizada décadas mais tarde, sob o governo de Getúlio Vargas.
Um longo caminho então foi percorrido, para em julho de 2008, a capoeira ser promovida como patrimônio cultural imaterial brasileiro, graças a uma iniciativa do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em parceria com o Ministério da Cultura. Mais tarde, em novembro de 2014, a Unesco reconheceu a capoeira como patrimônio cultural imaterial da humanidade, ajudando a preservar a prática não somente no Brasil como no mundo.
A presidente da Fundação Cultural Palmares, Cida Abreu, destaca que “a inclusão do ofício dos mestres da capoeira no Livro dos Saberes e da roda de capoeira no Livro das Formas de Expressão possibilita elaborar políticas públicas para preservar e garantir a autonomia dos mestres”.