
Filme de não ficção, o documentário é um gênero do jornalismo audiovisual que busca retratar uma narrativa que geralmente expõe um propósito específico. Entretanto, o documentário, embora tenha um compromisso bem maior com a verdade, ainda é cinema e pode fazê-lo de forma subjetiva e até mesmo lírica.
A celebração nacional do documentário brasileiro foi instituída em 2011, no dia 7 de agosto, pelo grupo ABD (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas) nacional em parceria com as demais ABDs. O órgão, por sua vez, foi elaborado em 1973, em prol da defesa de seus realizadores e demais cineastas brasileiros, os quais especificamente sofreram grande perseguição e censura pela ditadura militar.
O nome escolhido pela ABD, mesmo diante do reconhecimento de outros grandes nomes na construção do documentário brasileiro, foi Olney São Paulo. O cineasta e documentarista baiano, influenciado pelo neorrealismo italiano, dirigiu uma série de longas-metragens, dentre eles, o significativo “Manhã Cinzenta” (1968), indiretamente ligado à morte de seu criador. Durante o regime militar, um avião brasileiro foi sequestrado por uma organização oposicionista e levado em direção a Cuba, e um dos sequestradores possuía uma cópia da fita de “Manhã Cinzenta”. Sua veiculação durante o voo levou os militares a prenderem e torturarem Olney, injustamente associado ao sequestro. Mesmo após liberado, passou a ver sua saúde física e mental debilitada, até morrer em 1978. Em razão disso, na primeira amostragem e celebração do documentário nacional, cada ABD estadual, em consenso, exibiu em 2011 o polêmico longa, como forma de homenagem.
O documentário, entretanto, ainda é uma produção um tanto desvalorizada pelo público, ainda mais no que se refere à produção audiovisual brasileira, já muitas vezes negligenciada em prol do cinema norte-americano. “O cinema nasceu documentário, quando a primeira câmera registrou o primeiro trem (“A Chegada do Trem na Estação”, dos irmãos Lumiére), digamos assim. Por isso, claro que ele é importante para o cinema, é o documentário que lança o cinema no mundo. Mesmo num filme de ficção, a potência documentária está nessa relação com o mundo e com o outro. Essa abertura ao que vem do outro, ao que não pode ser controlado nem roteirizado é o que me interessa no documentário”, destaca a pesquisadora Carla Maia, da UFMG.
O Brasil possui grandes nomes na produção de documentário, como Eduardo Coutinho, reconhecido por filmes que privilegiassem as pessoas comuns. Algumas de suas principais realizações foram os produtos “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), “Santo Forte” (1999) e “As Canções” (2011), dentre outros.
Considerada uma obra-prima do cinema nacional, “Cabra Marcado Para Morrer” merece uma indicação para comemorar esse dia que marca a cultura brasileira. Seu enredo gira em torno de um líder camponês, João Pedro Teixeira, morto por poderosos latifundiários do Nordeste.